quarta-feira, 20 de junho de 2012

terça-feira, 12 de junho de 2012

PROFESSORES DA UFG DEBATEM SOBRE A GREVE


As greves e os sindicatos

Ged Guimarães
Professor da FE/UFG e filiado à ADUFG

No dia 06 de junho de 2012, os professores da UFG se reuniram para deliberar a respeito do indicativo de greve a ser iniciada no dia 11/06/2012.  A presidente do sindicato – ADUFG – solicitou aos professores não-filiados que cedessem os espaços do auditório aos filiados para iniciar a assembleia. Os presentes, talvez entendendo que o sindicato representa a categoria e não somente os filiados, continuaram em seus lugares. Frustrada em suas pretensões, a presidente declarou encerrada a sessão.
Como a maioria não acompanhou a presidente em sua retirada, um grupo de professores conduziu a reunião – sem o sindicato e sem o som, que foi levado pela diretoria.  
Os professores, talvez entendendo que a assembleia de um sindicato não se assemelha à assembleia de um condomínio – que tem um síndico que vigia para que os inadimplentes não votem – , ouviram, tiraram as dúvidas, democraticamente fizeram a inscrição para falar, tiveram tempo de fala e no fim, votaram pelo início da greve no dia 11/06/2012.
E por que o sindicato abandonou a assembleia? Por que os professores continuaram no local?
Em relação à primeira pergunta, vamos encontrar nos documentos do PROIFES e da ADUFG algumas explicações. Vejamos: “Essa radicalização nos episódios envolvendo o Movimento Docente tem crescido em todo o país [...], só demonstra que pequenos grupos, certamente representantes de interesses político-partidários, têm tentado à força, com atos de violência, impor seus interesses particulares ao conjunto do Movimento Docente, fazendo parecer que há uma realidade que não é a que pensa a maioria dos docentes, que estão procurando através de seus sindicatos legítimos e do PROIFES-Federação defender seus direitos, de forma democrática e autônoma”. (http://www.adufg.org.br/adufg/noticias.php?locNot=&ssc=0&id=2993&pg=0, grifos nossos)
Ora, acusar o movimento docente de desordeiro e ter líderes com interesses escusos à categoria é próprio de patrões e de governos autoritários. Aliás, essas acusações já foram ouvidas no Brasil durante o período da ditadura militar. Afirmar que pequenos grupos, representantes de interesses político-partidários, tentam se impor ao conjunto dos docentes é pressupor que os professores têm capacidade limitada de compreensão, são ingênuos e, por isso, facilmente manobrados. Quando a ADUFG abandonou a assembleia, parece não ter sido outra coisa senão o medo do debate, do confronto de idéias e de perder o controle do movimento. Talvez seja por isso que ela insiste tanto em voto eletrônico, voto à distância.
Em relação à segunda pergunta, a resposta parece óbvia: Os professores que compareceram à assembleia queriam conversar, debater a respeito dos fatos, decidir o que fazer e isso não dependia, naquele momento, do sindicato.
Ora, ora!  Sindicados que evitavam o debate e o confronto de ideias, outrora eram chamados de pelegos, pois, ao se alinharem aos interesses do patrão ou do governo, disponibilizavam aos trabalhadores alguns serviços sociais, organizavam campeonatos, faziam festas. Hoje, muitos sindicatos praticam o que chamam de sindicalismo de resultados. Chegam afirmar que patrões e empregados são parceiros no processo produtivo e que no governo há companheiros com os quais se pode contar.
No fim, o que sobra para o sindicato é a mesma coisa: cuidar de convênios, fazer excursões, organizar recreios, promover a assistência social e oferecer cursos de qualificação para os trabalhadores, entre outras ações do gênero.
Tudo isso afasta os trabalhadores das questões que dizem respeito às relações de trabalho: reivindicações por melhores salários, plano de carreira que respeite o princípio da qualidade e as condições de trabalho, além do necessário esforço para que todos compreendam a natureza de nossa sociedade.
Fora isso, e com ações próprias das ONGs, das atuais organizações sociais ou dos governos, o sindicato se transforma em lugar propício àqueles que desejam a promoção pessoal.
Para combater essas práticas, aos trabalhadores não resta alternativa senão a organização, o esclarecimento, o debate, sempre procurando separar o interesse público (de todos) dos interesses particulares.



Goiânia, 10 de junho de 2012.


Ged Guimarães

PROFESSORES DA UFG DEBATEM SOBRE A GREVE


Notas espontâneas sobre a greve na UFG: adeus aos professores como trabalhadores intelectuais?
Márcio Penna Corte Real – Professor da FE/UFG

Corre solto nos últimos dias desenfreado espetáculo (DEBORD) sobre a greve na Universidade Federal de Goiás, deflagrada em assembleia, em 06 de junho deste ano. Espetáculo este sustentado por jogos de imagens, orquestradas para sustentar argumentos favoráveis ou contrários ao movimento grevista.
O palco privilegiado de tal espetáculo tem sido as redes sociais e sítios de internet e, em alguns momentos, mídias próprias da imprensa, como as linguagens radiofônica, escrita e televisiva. Contudo, o conjunto de cenas, vividas principalmente nos bastidores e ao largo dos debates públicos, não pode escapar à análise mais acurada do movimento grevista e tem a ver com o argumento dito, a boca pequena, que a greve consiste em: instrumento desgastado para os professores trabalhadores das Instituições Federais de Ensino Superior/IFES. Na esteira deste argumento entra em pauta o discurso de o trabalho dos professores não ser ligado à produção de bens palpáveis – ou mercadorias – e que, portanto, a greve só traz prejuízos aos próprios professores e aos estudantes, não tendo impactos diretamente no conjunto da sociedade.
Esse nível de problemas parece merecer atenção. Em primeiro lugar, porque subtender uma divisão entre os trabalhadores, na qual a greve seja instrumento de luta apenas para alguns, significa ver os professores universitários a partir de certo estranhamento, em que o próprio trabalhador não se reconhece como tal.
Em segundo, são graves as faltas de percepção e de leitura de mundo, subjacentes ao proclamado discurso dos professores exercerem um tipo de trabalho que não é (facilmente) visível concretamente. Ora, seria necessário trazer a baila entendimentos como, por exemplo, que entre os papéis da educação está o de possibilitar às novas gerações, de forma sistematizada, o acesso à cultura e à formação? Mais, o que há de invisível ou impalpável no trabalho dos professores, como trabalhadores intelectuais que são, no tocante às diversas contribuições para a cultura, ciência e tecnologia, advindas das atividades de pesquisa e de extensão, não só reivindicadas como inseparáveis do ensino, mas fontes de renovação do próprio pensamento e da ação político-pedagógica-formativa?
A finalidade exclusiva da universidade não é a de “formar bons profissionais para o mercado de trabalho”. Pode-se, ainda assim, questionar se não é visível a repercussão, na sociedade, do trabalho de artistas, médicos, professores de diversas áreas, engenheiros, cientistas sociais, advogados, enfermeiros etc., enfim, da infinidade de profissionais formados na universidade pública, tendo como base o trabalho educacional formativo e quiçá crítico?
Certamente, as questões levantadas precisariam ser atentamente examinadas na dinâmica do atual movimento grevista. Como premissa reflexiva básica, porém, deve entrar em cena no atual palco do espetáculo de imagens e discursos a necessária compreensão que: tal nível de problemas tem tanto a ver com certa miopia teórica, quanto com a escolha de para onde se olhar. Isto é, a despeito dos últimos acontecimentos, sempre será possível olhar apenas para o próprio umbigo, mesmo que para isso seja preciso negar a natureza – eminentemente intelectual – do trabalho docente e, por consequência, suas inestimáveis contribuições para a vida em sociedade.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

POSIÇÃO DO FÓRUM SOBRE A ASSEMBLEIA DOS PROFESSORES E SOBRE A GREVE NA UFG

Ontem foi um dia histórico para os docentes da UFG. Uma das maiores assembleias da história desta universidade expressou o descontentamento e a indignação dos professores em relação ao desrespeito do governo com a categoria e aprovou por aclamação início da Greve na UFG dia 11/06.
A associação entre políticas de reestruturação da carreira dos docentes em moldes predatórios, hiperprecarização das condições de trabalho dos professores nas IFES de todo o país e a indisposição do Governo em dialogar com a categoria, pondo na mesa propostas condizentes com as necessidades da Universidade pública brasileira precipitou uma greve de proporção e importância históricas. Em pouco menos de 20 dias a quase totalidade das Universidades Federal paralisou suas atividades e iniciou movimentos grevistas em todo o país.
A UFG não ficou incólume a esse processo. Os professores dos Campus Catalão, Jataí e Cidade de Goiás, que sentem de forma mais contundente os impactos das políticas de reestruturação do governo para as Universidades, aderiram à greve nacional por não suportarem mais carregar nas costas o peso da expansão desordenada, com uma projeção de carreira que elimina princípios e direitos fundamentais do trabalho docente na Universidade. Em Goiânia, os indícios de insatisfação apareceram em diversos momentos e lugares: na Assembleia dos docentes chamada pela diretoria da ADUFG ainda no mês de maio, que propôs indicativo de greve para dia 11/06; na organização de um movimento independente de mobilização dos professores que se auto-organizou como Fórum; nas declarações de insatisfação e indignação de cada professor, nos corredores, salas de aulas, laboratórios ...
Diante desse quadro, tínhamos uma Assembleia, convocada pala diretoria da ADUFG, marcada para o dia 06/06 com uma única pauta: Greve dia 11/06. Então, na tarde deste dia, professores lotaram o plenário da Assembleia na EMAC cheios de expectativa de que teríamos um debate importante e que a direção de nosso sindicato apresentaria uma pauta de mobilização e de luta da categoria no sentido de nos juntarmos ao amplo e maciço movimento nacional em processo desde o dia 17/05. A expectativa ampliou-se com a recepção e o apoio apresentado pelos estudantes que, com palavras de ordem, chamavam os professores para a Greve a favor da Educação.
Mas, as expectativas se frustraram nas intervenções da direção. Ainda na véspera da Assembleia, a direção do sindicato mudou o local de sua realização faltando pouquíssimo tempo para informar a todos. E, numa clara atitude de desrespeito, enviou mensagens por celular indicando que o local da Assembleia seria no IME, confundindo vários professores.
Já na Assembleia a diretoria surpreendeu aos docentes ao propor que professores que não fossem filiados se lavantassem (e, se possível, se retirassem também) para o andamento da Assembleia. Esse quadro significou o acirramento dos ânimos entre direção e plenário, expresso nas vaias que os professores proferiram para a mesa diretora. Não bastasse essa situação, a polícia militar fora chamada para conter os estudantes que se manifestavam do lado de fora do Teatro da EMAC.
Essa situação levou à presidente do sindicato tentar suspender a Assembleia, por conta própria e sem consulta ao plenário. O evidente despreparo para lidar com uma situação de adversidade (uma vez que a direção do sindicato sempre esteve contrária ao movimento de greve) e a reiterada manifestação de desrespeito em relação à centenas de professores que estavam na Assembleia (diríamos, em relação aos professores da UFG) precipitou o enfrentamento entre professores, que rapidamente foi contido.
É preciso dizer que no espaço público de debate a violência, em suas diferentes formas e conteúdos, é injustificável. Nesse sentido, o roubo da fala, a destituição da voz dos professores e a anulação do debate político, são os meios pelos quais a diretoria da ADUFG vem violentando os professores cotidianamente.
Após os eventos, a ampla maioria dos professores se manteve no plenário e exigiram a continuidade da Assembleia. Sem a direção do sindicato, os professores debateram democraticamente, mas em condições precárias, pois nem mesmo o som foi-nos permitido. O resultado foi a deliberação pela Greve com início no dia 11/06 e a criação do Comando Local de Greve da UFG. Essa mesma Assembleia, numa clara posição de que tem a intenção de compor um forte e ampliado movimento entendeu que a greve é construída no nosso sindicato, e que o sindicato somos nós!
É necessário dizer que havia professores que compõem o Fórum na Assembleia. Alguns falaram à frente, muitos permaneceram sentados na plenária discutindo com seus pares, votando e se expressando do modo com foi possível. É também necessário dizer que o Fórum se constitui, a partir de agora, como base de apoio à greve na UFG, pois sua razão de existir é a construção de uma Universidade pública, gratuita e de qualidade, com professores valorizados e fortalecidos no seu trabalho e, hoje, a greve é um instrumento fundamental dessa luta.
Àqueles que estiveram lá, sabem o que há de verdade e o que é inverídico nas informações circuladas pela direção da ADUFG. Alguns professores têm solicitado para se desvincularem (retirar e-mails da lista) do Fórum, por associá-lo aos eventos acontecidos na Assembleia. Muitos outros solicitaram para se integrarem ao debate, após isto. Se desvincular é um direito legítimo e será respeitado, quando cada um de nós solicitá-lo. Entretanto, é, no mínimo, descuidado acusar o Fórum de promover qualquer tipo de ações deletérias em qualquer que for o espaço, pois isto incide na acusação de centenas de professores, estudantes e técnicos que sequer levantaram-se de suas cadeiras durante todo o processo ou nem estiveram presentes na Assembleia.
O Fórum de Mobilização dos Professores entende que a violência está do lado da direção do sindicato que desrespeita, fragmenta e desinforma os professores. Essa violência machuca n'alma daqueles que, de forma autônoma, pensam, refletem e lutam pela construção de uma Universidade pública, gratuita e de qualidade para todos nas salas de aulas, em seus núcleos e laboratórios, nos projetos que se estendem à comunidade fora da universidade e que se organizam politicamente.
O Fórum tem a tarefa de ajudar a construir a greve! Venham e participem.


Próxima reunião dia 11/06 às 14 horas na Faculdade de Letras.       

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Por 10% do PIB para a Educação e Reforma da Carreira Docente


O Ensino Público Superior Federal sempre foi sinônimo de qualidade em educação no Brasil, apesar de nas últimas décadas as universidades federais terem sofrido com a falta de verba para suas atividades e de valorização da carreira acadêmica. Esses fatores têm contribuído para a redução na qualidade do ensino, principalmente pelo fato dos professores mais produtivos, valorizados no mercado e desvalorizados na universidade, estarem saindo em busca de condições mais justas. Por outro lado, a geração de doutores que o Brasil vem formando nos últimos anos tem demonstrado pouco interesse no ingresso na carreira acadêmica por conta dos motivos já citados, dificultando a renovação do corpo docente. A continuidade deste quadro favorece que o ensino superior venha a se tornar, assim como o ensino fundamental e médio, sinônimo de baixa qualidade, e que apenas através do ensino privado os brasileiros possam ter acesso a educação de qualidade.


Não existe país desenvolvido sem forte investimento em educação! Não existe bom profissional (médico, engenheiro, arquiteto, etc.) sem um bom professor na universidade. É preciso que o Brasil volte a investir em educação para que seu desenvolvimento seja sólido e constante. Existe um projeto de lei em desenvolvimento pela Comissão de Educação e Cultura (CEC) da Câmara Federal para garantir que 10% do PIB sejam investidos em educação. Hoje o Brasil não investe nem 7% do PIB em educação.


É preciso pressionar o governo para que essa lei seja aprovada, pois ela pode garantir a verba necessária para solucionar graves problemas existentes hoje, que culminaram com uma forte greve nacional das IFEs, iniciada no dia 17 de maio e que hoje já paralisa as atividades em 48 Instituições Federais, sendo 43 Universidades das 59 Universidades Federais Brasileiras. Ainda em Junho 100% das universidades brasileiras podem parar suas atividades, uma vez que os indicativos de greve por tempo indeterminado das universidades ainda em atividade serão votados até dia 15.


O Ministro da Educação Aloísio Mercadante interrompeu as negociações do GT Carreira alegando que o governo não negocia com entidades em greve. Nem no regime militar isso aconteceu no Brasil!


Somos mais de 100 mil professores em greve. São mais de 1 milhão de alunos prejudicados com a paralisação das aulas. Quando atingirmos 50 mil assinaturas o AVAAZ vai encaminhar essa petição ao Mercadante! Vamos mostrar a força de um movimento formado por alunos e professores e juntos construir uma situação melhor para o ensino público deste país.


http://www.avaaz.org/po/petition/Por_10_do_PIB_para_a_Educacao_e_Reforma_da_Carreira_Docente_2/?tta

terça-feira, 5 de junho de 2012

A greve e a UFG
Ged Guimarães[1]
Várias unidades acadêmicas da UFG, sobretudo aquelas que formam professores, emitiram, há poucos meses, notas de apoio aos professores da Rede Estadual de Educação do Estado de Goiás em suas reivindicações por melhores salários e condições de trabalho. Entre as 25 metas[2] da proposta do Governo de Goiás, denominada de Pacto pela Educação, duas delas nos levam à reflexão nesse momento em que várias IFES (Instituições Federais de Ensino Superior) estão em greve: a de número 17, definida como “Bônus para servidores” e a de número 18, “Prêmio Escola”.
Na primeira, leia-se: “conceder bônus aos profissionais da educação por mérito, criando um ciclo virtuoso de busca pelo bom desempenho”. Esta meta, nominada como “Bônus progressivo”, teria o seu valor aumentado segundo o desempenho, sobretudo dos alunos, que seriam também premiados.
Na segunda, “Prêmio Escola”, diz o texto: “o programa consiste em definir metas ousadas que levem em conta a realidade e potencial de cada escola, gerando um incentivo justo e desafiador”. Para esse fim, propõe que o “prêmio” seja repassado à unidade escolar, “de forma com que a escola deva investir nela mesma”.
Para a implantação do referido Plano, o governo retirou a gratificação por titularidade em favor do bônus por produtividade ao professor que apresentasse resultados positivos junto aos alunos, que seriam avaliados pela Secretaria.
Opondo-se ao conjunto do Plano, os professores fizeram uma greve que se arrastou por mais de 90 dias, quando conseguiram a flexibilização de algumas das metas.
Já o Governo Federal encaminhou aos docentes, no final de 2010, uma minuta que dispõe sobre a reestruturação do plano de carreira do magistério superior[3], com promessa de que até março de 2012 se chegaria a uma proposta final. As negociações evoluíram pouco e o que temos é a possibilidade dessa reestruturação ser efetivada sem o princípio do contraditório. É um documento com 48 artigos. Dois deles nos levam à comparação com o Pacto pela Educação do Governo de Goiás. Trata-se do art. 19 que estabelece que o professor, para acelerar a sua progressão na carreira deve “assumir 12 horas ou mais, semanais, no ensino de graduação”, e para se chegar ao topo da carreira – Professor Associado –, no mesmo artigo está escrito: “ter participado de programa de pós-graduação ou pesquisa nos últimos dois anos” e, em seguida, complementa com a restrição “de acordo com critérios estabelecidos pelo MEC [...]”.
Além de estabelecer a competição/concorrência entre os pares, pois não haverá pós-graduação para todos atuarem, esses critérios nos deixam em dúvida ao apontarem para uma possível avaliação exterior às IFES.
O art. 24 fala em retribuição por projetos institucionais de pesquisa e extensão, compondo individualmente o salário dos professores, caso não reduzam seus encargos didáticos. Em conformidade com este artigo, as IFES saem também ganhando, pois parte dos recursos captados pelo docente será destinada a um “fundo institucional e local”. Aliás, ações nesse sentido já são incentivadas pela instituição, que pontua, com maior valor, os docentes empreendedores em suas avaliações de progressão na carreira.
Ora, se os atuais projetos financiados, que resultam em bolsas, causam desconforto na universidade, pois uns têm melhores condições de trabalho e ganhos financeiros, com o Plano do Governo isso será normatizado.
Quando algumas unidades acadêmicas da UFG se posicionaram em favor dos professores da Rede Estadual de Educação em greve, a crítica fundamental era em relação ao princípio da meritocracia. Para os professores dessas unidades, isso acirraria a competitividade e estimularia a cultura individualista, próprias do mercado de trabalho, que exige pressa, economia, lucro.  Na época, afirmavam que a escola, o professor, a aula, a avaliação, não podem ser tratados como mercadoria, entendendo que o trabalho acadêmico requer tempo para o estudo, para a correção dos trabalhos, para a pesquisa, para a orientação, para o acompanhamento do aluno. E isso não combina com a correria dos professores por mais aulas, mais alunos, mais projetos, mais recursos, princípios definidos nos artigos 19 e 24 da proposta encaminhada pelo Governo Federal aos professores das universidades federais.
Os professores da UFG, sobretudo aqueles que ficaram indignados com as Metas para a educação em Goiás, se veem agora diante da mesma lógica e terão de tomar uma posição nesse momento em que se reúnem para discutir a respeito dos rumos da universidade, inclusive com a possibilidade de uma greve também na UFG.  

Goiânia, 31 de maio de 2012
Ged Guimarães


[1] Professor da Faculdade de Educação da UFG – gedh@bol.com.br

[2]  http://www.educacao.go.gov.br/especiais/pactopelaeducacao/pilares.asp

[3] http://portal.andes.org.br/imprensa/documentos/manual/minuta.pdf

segunda-feira, 4 de junho de 2012

JORNAL OPÇÃO DIVULGA MATÉRIA SOBRE O FÓRUM DE MOBILIZAÇÃO DOS PROFESSORES DA UFG

Professores fazem indicativo de greve para o dia 11
Antes, categoria se reunirá por meio do Fórum de Mobilização dos professores da Universidade Federal de Goiás e em assembleia organizada pela Adufg
Ketllyn Fernandes

Assim como ocorreu com as manifestações do Sintego (Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás) no início deste ano, em que um movimento paralelo atuava em prol de melhorias à categoria de forma mais incisiva durante a greve que durou 51 dias; docentes da UFG criaram o Fórum de Mobilização dos professores da Universidade Federal de Goiás, que nesta segunda-feira, 28, se reúne para tratar de questões referentes à possibilidade de greve dos professores no estado, cujo início está previsto para o dia 11 de junho.  A adufg também tem agendada uma assembleia geral da categoria para o dia 6 de junho, em que serão tratados, dentre outros assuntos, a paralisação.

O grupo aponta a Adufg (Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás) como acomodada ante os problemas enfrentados pela classe: reajuste salarial, gratificações e falta de comprometimento por parte do governo federal – que adiou para 2013 o compromisso firmado em 2011 que previa a instauração de um novo plano de carreira até março de 2012.

Pelo acordo firmado com o sindicato nacional da categoria, este ano seria concedido um aumento de 4% aos professores, porém a promessa não foi cumprida, dando origem a uma ameaça concreta de greve para o último dia 17 de maio. O MEC (Ministério da Educação) então decidiu por assinar a Medida Provisória n° 568, que tornou efetivo e retroativo a março o acordo firmado em 2011.

Reivindicações

O Fórum, entretanto, alerta que somente os 4% de reajuste não trarão mudanças significativas, uma vez que o aumento afeta diretamente o salário de grande parte dos docentes, por mudar o regime de recebimento da data-base anual, resultando, conforme consta em carta aberta do Fórum, em valores congelados e nominais.

Outro ponto de insatisfação são as perdas acumuladas pelos professores que atuam em IFES (Instituições Federais de Ensino Superior). Conforme levantamento feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), os docentes dos institutos já acumulam perda de 16% de 2009 a julho 2011.

A classe convive hoje com defasagem salarial, que se comparada a um salário pago em 2003 para um pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e um professor com doutorado variava em apenas R$ 300 a menos para o segundo;  atualmente a diferença pode chegar a até R$ 5 mil.

Para além de questões financeiras, o Andes (Sindicato Nacional das Instituições de Ensino Superior)aponta que o cenário atual das universidades federais é o seguinte: “Instituições sem professores, sem laboratórios, sem salas de aulas, sem refeitórios ou restaurantes universitários, até sem bebedouros e papel higiênico, afetando diretamente a qualidade de ensino.”

O governo

Em contrapartida às questões apontadas pela categoria em âmbito nacional, o ministro da Educação, Aluízio Mercadante, afirmou no último dia 23, quarta-feira, que o governo cumpriu com todos os acordos firmados ano passado com os professores universitários federais, se referindo ao reajuste de 4%. Sobre a restruturação do Plano de Carreira, o ministro defendeu que ainda está dentro do prazo, já que a proposta pode ser enviada até 31 de agosto para aprovação do orçamento.
Mercadante reiterou não ver necessidade para deflagrar uma greve, já que está em andamento uma negociação com o governo. “Não há qualquer prejuízo material para os docentes”, pontuou.  Segundo ele, uma paralisação de professores iria de encontro a todos os esforços do governo em desenvolver o ensino superior no Brasil. “São 220 mil novas vagas, 14 universidades e 132 novos campi para dar suporte a esse 1 milhão de matrículas. Desde 2005, investimos R$ 8,4 bilhões na reestruturação da rede federal. Somente em 2012, o investimento é de R$ 1,4 bilhão. Temos 3.427 obras”, concluiu.