terça-feira, 12 de junho de 2012

PROFESSORES DA UFG DEBATEM SOBRE A GREVE


Notas espontâneas sobre a greve na UFG: adeus aos professores como trabalhadores intelectuais?
Márcio Penna Corte Real – Professor da FE/UFG

Corre solto nos últimos dias desenfreado espetáculo (DEBORD) sobre a greve na Universidade Federal de Goiás, deflagrada em assembleia, em 06 de junho deste ano. Espetáculo este sustentado por jogos de imagens, orquestradas para sustentar argumentos favoráveis ou contrários ao movimento grevista.
O palco privilegiado de tal espetáculo tem sido as redes sociais e sítios de internet e, em alguns momentos, mídias próprias da imprensa, como as linguagens radiofônica, escrita e televisiva. Contudo, o conjunto de cenas, vividas principalmente nos bastidores e ao largo dos debates públicos, não pode escapar à análise mais acurada do movimento grevista e tem a ver com o argumento dito, a boca pequena, que a greve consiste em: instrumento desgastado para os professores trabalhadores das Instituições Federais de Ensino Superior/IFES. Na esteira deste argumento entra em pauta o discurso de o trabalho dos professores não ser ligado à produção de bens palpáveis – ou mercadorias – e que, portanto, a greve só traz prejuízos aos próprios professores e aos estudantes, não tendo impactos diretamente no conjunto da sociedade.
Esse nível de problemas parece merecer atenção. Em primeiro lugar, porque subtender uma divisão entre os trabalhadores, na qual a greve seja instrumento de luta apenas para alguns, significa ver os professores universitários a partir de certo estranhamento, em que o próprio trabalhador não se reconhece como tal.
Em segundo, são graves as faltas de percepção e de leitura de mundo, subjacentes ao proclamado discurso dos professores exercerem um tipo de trabalho que não é (facilmente) visível concretamente. Ora, seria necessário trazer a baila entendimentos como, por exemplo, que entre os papéis da educação está o de possibilitar às novas gerações, de forma sistematizada, o acesso à cultura e à formação? Mais, o que há de invisível ou impalpável no trabalho dos professores, como trabalhadores intelectuais que são, no tocante às diversas contribuições para a cultura, ciência e tecnologia, advindas das atividades de pesquisa e de extensão, não só reivindicadas como inseparáveis do ensino, mas fontes de renovação do próprio pensamento e da ação político-pedagógica-formativa?
A finalidade exclusiva da universidade não é a de “formar bons profissionais para o mercado de trabalho”. Pode-se, ainda assim, questionar se não é visível a repercussão, na sociedade, do trabalho de artistas, médicos, professores de diversas áreas, engenheiros, cientistas sociais, advogados, enfermeiros etc., enfim, da infinidade de profissionais formados na universidade pública, tendo como base o trabalho educacional formativo e quiçá crítico?
Certamente, as questões levantadas precisariam ser atentamente examinadas na dinâmica do atual movimento grevista. Como premissa reflexiva básica, porém, deve entrar em cena no atual palco do espetáculo de imagens e discursos a necessária compreensão que: tal nível de problemas tem tanto a ver com certa miopia teórica, quanto com a escolha de para onde se olhar. Isto é, a despeito dos últimos acontecimentos, sempre será possível olhar apenas para o próprio umbigo, mesmo que para isso seja preciso negar a natureza – eminentemente intelectual – do trabalho docente e, por consequência, suas inestimáveis contribuições para a vida em sociedade.

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